segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ética, Futebol e Imprensa - 1

Durante toda a semana, muito se disse ou se escreveu na Imprensa sobre as tais malas. Para os desavisados, a discussão era sobre a tal "mala branca", ou seja, um incentivo financeiro dado por um time, que ainda disputa algo no Campeonato, para outro ganhar seu jogo que, para ele mesmo, não vale rigorosamente nada.

Essa discussão chegou ao fim com dois grandes chavões - próprios da media:


  1. É dinheiro para ganhar, então não tem problema. Se fosse para perder (a "mala preta") então não poderia. A favor, portanto, do tal incentivo.

  2. Quem recebe para ganhar pode receber também para perder, o que fere a desportividade do jogo. Além disso, os profissionais são pagos para cumprir a sua parte. Você recebe um incentivo para cumprir sua obrigação? Esses são contra.

O interessante é que ambas as premissas chegam, timidamente, à questão do futebol como negócio e o que isso implicaria para a sua própria existência. O negócio mata o futebol. Assunto para aprofundarmos.


Estava em casa no sábado, e eis que, depois de uma discussão sobre esse tema, ouço, pela RADIO GLOBO AM, um comentário sobre o time do Flamengo. Dizia o seguinte: "O Flamengo só conseguiu a vaga para a Libertadores no ano passado graças à remarcação dos jogos por conta do Pan. Está de parabéns quem fez esse trabalho para o Flamengo junto à CBF". E vários elogios se seguem, embora tenha havido um tímido protesto do decano Luís Mendes. Os "moleques" acharam isso o máximo. Não conseguiram concatenar, contudo, o problema entre a discussão anterior, sobre as tais malas, e esse comentário, que dizia que através do "jeitinho" é possível - e legítimo - que as regras sejam burladas e, a tal desportividade do jogo pode ser ferida - no caso, o foi no que diz respeito à equidade: o Flamengo teve mais oportunidades de jogar em sua casa, numa determinada sequência de partidas.

Se é negócio, então admitamos que é assim. A lógica do contrato tem como base lógica a equidade entre os envolvidos na negociação. Sabemos que isso ocorre do ponto de vista formal: é a equidade entre desiguais. Mas, se a lógica é essa, pensaremos a partir dela. E os colunistas esportivos e especialistas vêm bradando aos quatro cantos que a solução para a "crise moral" do futebol é sua profissionalização - matando o jogo, em minha opinião, como venho dizendo. Daí temos que:

  1. As malas são possíveis e fazem parte do "jogo" do esporte mercantilizado. Se os lobbys são permitidos, quando políticos defendem setores do capital e seus interesses no Congresso em troca de financiamento para as campanhas (e, talvez, outras "cositas"), por quê não podemos encarar as "malas" da mesma forma? Os defensores da mercantilização do esporte (ou aqueles que o enchergam como consequência, sinal dos tempos, impossível de se transformar) devem conviver com as tais "malas", pois é assim no capitalismo. Ou seja: a tal "desportividade" e a idéia de equidade e moralidade através do contrato deve ser abandonada.
  2. A mídia também troca favores. Não apenas do ponto de vista econômico, trocando matérias e opiniões por dinheiro, mas também ida a festas, brindes, entrada livre em eventos e jogos, camisas, notícias exclusivas, e toda sorte de mimos. Dessa forma, emitem opiniões de acordo com interesses diversos, mesmo quando são aberrações lógicas, como a que foi citada.

Se o esporte "moralizado" passa por sua inclusão dentro do capitalismo, devemos extirpar toda sorte de troca de favores. Será que no capitalismo essa exclusão é permitida? E em que nível será? Será assim para todos?

No país em que Painhos e Marinhos são beijados até quando mortos, por quê não as malas?


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